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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Quarto para dois?


Quarto pra dois, né?
- Não, só para mim.

Com minha mochilinha preta nas costas, uma rasteirinha coringa e uma sacola com alguns itens de banheiro, fui entrando desconfiada e um pouco tímida, confesso. Isso porque eu estava rodeada de olhares que escancaravam questionamentos. Foi assim que cheguei no hotel que me hospedaria, sozinha, para meu tão sonhado encontro comigo mesma na virada de ano.

Ninguém entendeu isso. Acharam que eu ia usar aquele “exílio” - como alguns chamaram ironicamente - para lamentar perdas fortes que tive em 2017 e chorar uma noite inteira comendo chocolates. E teve quem esperasse o pior: pensavam que eu ia amanhecer morta numa banheira ou com uma corda amarrada no pescoço. Teve quem me olhasse desconfiado e incrédulo, num tom também irônico: - mas não vem ninguém de Brasília? A todo instante, perguntavam ao Marcelo - meu irmão aqui no Acre - se ele estava em contato comigo. Ele dizia que não. “Mas vocês não são amigos?” e ele respondia que, justamente por isso, ele precisava dar o espaço que eu tanto queria.



A minha espera por 2018 significou muito. Quando começaram os fogos no comecinho da noite do dia 31, meu coração acelerava. Eu me apoiei na simbologia do “Ano Novo, vida nova” e era como se em poucos instantes eu tivesse que dar adeus a uma maneira de funcionar que já não era mais a ideal para mim. Ou melhor, já não era mais saudável para mim. Meia noite em Brasília: rezei e me emocionei. Pedi a Deus que me ajudasse a retomar meu equilíbrio, minha alegria de viver e minha paz interior. Depois disso, fui festejar né, mores? Ainda não tem nenhum anjo por aqui. Mas, foram menos de 3h de festa. Voltei para casa no auge das atrações da noite. O que eu mais queria mesmo era ficar sozinha.



Percebi que, na nossa sociedade, é difícil as pessoas compreenderem que solidão nem sempre significa tristeza. Pode ter outros mil significados. No meu caso, era autoconhecimento, busca pela minha paz interior e um pouco do desejo de conforto e privacidade. Era também poder mexer no celular enquanto eu comia sem ninguém censurar. Era tirar quantas fotos eu quisesse e ficar todo tempo do mundo sentada na mesa do restaurante depois de jantar. Dormir e acordar como e quando eu sentisse vontade. Era não depender de ninguém e nem ter que dividir decisões com ninguém.

Foram dois dias de descobertas e aprendizados. Também ouvi músicas edificantes, iniciei minhas primeiras tentativas de meditar, ouvi e entoei mantras e comecei a ler um bom livro de Augusto Cury que fala sobre controle das emoções - incrível, por sinal. Dentro de todo este contexto, escolhi também viver uma experiência muito inusitada no último dia do ano. Esta não quero expor aqui, mas fez parte do meu processo de me permitir viver o novo. 


Eu sabia que esses dois dias seriam bons para mim, mas não imaginava que seria uma experiência tão renovadora. Logo eu que achava que tinha total controle das minhas emoções, que sabia lidar com perdas e que me sentia tão dona de mim. A gente percebe que não sabe de nada quando somos postos à prova. Eu reprovei na última delas. Mas, reprovar ensina a estudar e a buscar o aprendizado. Reprovar também serve para ensinar a não repetir as mesmas atitudes que já deram errado em outras tentativas.

Sabe quando dá medo de voltar para a realidade e se sujar de novo com todas as impurezas e dificuldades do mundo fora da janela de um quarto confortável de hotel? Aquele receio de voltar a sentir ansiedade, medo, dores, inquietações..

Minha mãe sempre diz que dificuldades todos nós temos, mas é preciso buscar as ferramentas certas para enfrentá-las sem perder o equilíbrio. Hoje me sinto engatinhando em busca da minha paz. Um passo de cada vez. Montando quebra-cabeças. Colocando na minha bolsinha de mão as ferramentas necessárias para enfrentar algo muito maior do que os problemas do dia-a-dia: enfrentar as próprias emoções. Lutar para conseguir bens materiais é até mais fácil do que à luta contra as próprias mazelas, os pensamentos negativos, ansiedades e dores emocionais.

Viemos neste mundo para aprender. A dor e as perdas fazem parte do processo de evolução. Reconhecer isto já é um grande passo na busca pela real felicidade, aquela que não está nas festas, nos copos de cerveja e nos beijinhos na boca em vão. Tudo isso faz parte do mundo e é claro que vivo isso. Sou só mais um ser humano. Mas eu falo da felicidade interior, de estar bem e satisfeito com a própria presença e com as próprias escolhas.

Hoje, sou grata ao universo por me dar a chance de experimentar o gosto amargo da dor, das perdas e das frustrações. Só assim tenho conseguido enxergar, lá no fim do túnel, a luz que me mostra um pouco do que eu posso ser, se continuar nesta caminhada. Ainda preciso de muita força pra encarar os próximos obstáculos. Confesso que não me sinto curada, nem pronta. Mas, sinto que alguém segurou minha mão como eu tanto queria quando soltaram. E esse alguém foi eu mesma. 


Um comentário:

  1. Muito bacana o fato de entender a própria companhia como instrumento de renovação. Vi que você também estava hospedada no hotel pelo stories do Instagram, mas também peguei minha mochilha preta e fui embora. Não foi dessa vez que lhe conheci.

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