Find me

Quem eu sou

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Ser piegas é maneiro pra caramba





Uma vez recebi uma crítica ríspida de um ex-chefe, editor de um dos veículos de comunicação em que trabalhei. Na época, o simpático disse que meus textos eram muito “piegas”. Tudo bem que ele tinha sim um pouco de razão: na ocasião, falhei na missão de escrever um texto jornalístico sobre um velório de forma inteiramente informativa e sucinta. Acabei deixando o coração falar e enfeitei as palavras com todas as emoções que senti quando cobri o evento. Ok, para o jornalismo nem sempre isso é adequado. 


A crítica foi rude, mas foi válida. No final das contas, aprendi a separar quando é conveniente expressar emoções em coberturas jornalísticas. 


Depois de anos que recebi a pequena bronca adicionada ao pedido de refazer o texto, volta e meia me pego pensando sobre o que ouvi. Não tanto pelo constrangimento de ter presenciado as falhas do meu texto sendo expostas para todos os colegas repórteres ouvirem, mas pela palavra “piegas”. 


Chefe, a verdade é que eu sou completamente piegas. Sou uma intensa apaixonada pela vida e por tudo que escolho entregar o meu coração. Sou piegas no amor, piegas na profissão, piegas em todo cantinho que eu sinto que cabe o meu coração. “Tudo são flores” sim, mesmo quando cheias de espinhos. A meta é sempre colorir quando tiver preto e branco, amar na percepção do impossível e sonhar quando a luz ao fim do túnel estiver turva. Que graça teria viver sem amar? Que graça teria a vida se eu não achasse ela uma graça? 

Frustrações existem, decepções também...mas, no fim das contas, tudo tem o motivo exatamente certo de ser como é. E enxergar a beleza disso é o que dá o gás para seguir em frente, de cabeça erguida, com um friozinho na barriga, mas com o coração aquecido.

Pode colocar emoticons de coração em tudo sim <3 Ser piegas é maneiro pra caramba! Com certo controle na dosagem, eu recomendo.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Seja bem-vindo



Então eu te conheci, quando eu já estava exausta de sofrer por um passado sem futuro. Quando transitava da fragilidade para a solidez, tomando doses e doses de amor próprio. Isso tudo para recuperar a auto estima destruída pela falta de reciprocidade numa relação falida. 

Nas minhas doses, misturei gelo, vodka e limão para alegrar e esquecer um pouco as angústias. Foi quando te vi, cantando minhas músicas preferidas. Um (re)encontro de almas que só fui entender dias depois. Sem conter meu sempre excesso de espontaneidade, me aproximei, falei e senti vontade de não desgrudar. E de ficar. 

Fui provando um gosto doce de paixão sem dor. Leve, que não fere. De reciprocidade sincera, de ler “bom dia” e “boa noite”, de sintonia de pele e de coração. De mãos entrelaçadas, beijos que arrepiam e abraços que acolhem. Senti o coração quentinho, como se estivesse, finalmente, agasalhado e aconchegado numa cama confortável. 

Matei a charada e montei o quebra-cabeça! Toda frustração do passado finalmente fez sentido. Me lembro de me sentir num labirinto sem saída e agora consegui chegar ao lado de fora daquele embaraço. Tudo tinha uma razão. Era o caminho para que eu pudesse encontrar os olhos que me transmitem paz, as mãos que me seguram com firmeza e a risada baixinha que se contrapõe à minha risada escancarada. 

Senti medo. É assustador quando, inesperadamente, a gente se vê acordando com alguém no pensamento. 

A verdade nua e crua é que a paixão te tira do foco de si mesmo. É a prova que revela se você aprendeu tudo que leu sobre amor próprio e sobre respeito a você e a quem te escolheu para dividir a sobremesa, a sexta-feira e até a conta, se for preciso.

Eu ainda não sei trabalhar muito bem com situações em que me sinto perder o controle. A paixão, para mim, ainda é um pouco disso: perder o controle da razão. Numa figura de linguagem é exatamente como soltar as rédeas, jogar a toalha...mergulhar numa piscina de procedência e profundidade desconhecidas. Da última vez em que me senti fora do meu controle, doeu muito. 

Os pequenos traumas ficam, fazem parte da caminhada, mas não servem para travar novas experiências. Eles são as molas que impulsionam o aprendizado e o amadurecimento. Não se pode ganhar sempre, nem se sentir realizado sempre. Viver é se conhecer para saber driblar as dores e as dificuldades com maestria e poder degustar só a nata dos sentimentos nobres. 

A vida, para mim, também são eternos passinhos de formiga em direção ao autoconhecimento e à evolução. Aprendi que viver sozinha é muito gostoso. Não acharia ruim se tivesse que ficar nesta condição até o fim da minha jornada por aqui. Além de gerar uma sensação de liberdade, é altamente educativo e necessário para se ter encontros e descobertas de si mesmo. Mas preciso admitir que a vida tem cheirinho de flor quando alguém, muito mais do que em palavras, mas em atitudes, resolve plantar sementes de amor no seu coração. 

Essas palavras são minhas para mim mesma, para que eu siga aprendendo e sendo comandante dos meus melhores e piores sentimentos. Para que nem o amor, nem a dor sejam capazes de me tirar as rédeas e destruir o que aprendi e o que construí dentro de mim. 

Acredito que a gente tem a oportunidade de se conhecer a cada nova dor e a cada novo amor. 

São os opostos que nos chacoalham e que nos movem. Se conhecer é o caminho para se sentir seguro e para saber conduzir o barco com firmeza, por mais avassaladora que seja a tempestade em alto mar. 

Que venha, que fique o tempo que tiver que ficar e que me ensine o que eu tiver que aprender. Estou de coração aberto para seguir o desafio de ser minha, mesmo entregando o meu coração para alguém. 

Mas, se tiver que partir, que seja leve como chegou. E que eu tenha sempre mais maturidade e racionalidade para lidar com idas e vindas, começos e finais. 

Por ora, só me resta saudar a sua chegada. 

Amor, seja bem-vindo!

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Gratidão profissional


Essa galera trabalhadora passa aqui na minha rua de manhã cedo, toda semana, fazendo uma festa: cantando, gritando e rindo! Claramente, para eles - e deveria ser para todo mundo - o trabalho é diversão. Claro que a algazarra acorda a vizinhança toda. Mas ok, não é esta a lição.

Diariamente, vejo colegas médicos, advogados, jornalistas bem empregados, concursados, ganhando um salário folgado, trabalhando sentadinhos no ar condicionado e sempre reclamando... seja de salário, seja de carga horária, seja da atividade em si.

Será que hoje, ou alguma vez na vida, já agradecemos pelo emprego? Pelo estudo? Pelo conforto? Pela vida? Às 7h da manhã, esses caras aí me ensinaram que, muitas vezes, a felicidade está só na gratidão🙏🏽

quinta-feira, 19 de julho de 2018

É preciso falar sobre perdão



Que os últimos 9 meses da minha vida foram de desafios intensos, perdas, mudanças consideráveis e extremo aprendizado, a gente já sabe. Há poucos dias me vi enfrentando uma dificuldade interna que eu nunca tinha experimentado. Isso faz parte das aventuras da vida adulta: você começa a viver coisas que até então só via acontecer com os outros.

Desde que me entendo por gente, leio sobre perdão. Isso porque cresci numa religião que reforça a virtude que é saber compreender o contexto de quem te magoa. Sim, perdoar é uma virtude. É compreender, é se libertar...perdoar é limpar a mancha que polui o coração.

É bonito falar em “saber perdoar” e no quanto isso é saudável. Era o assunto da maioria das reuniões espíritas aqui em casa, das aulas de evangelização ou das palestras no Centro Espírita. Entretanto, depois de tudo que li na teoria, foi perturbador chegar à conclusão de que eu ainda não aprendi a perdoar. Os passinhos de formiga que damos à caminho da evolução, me assustam de tão lentos! Somente na prova prática conseguimos enxergar em que nível estamos e o quanto ainda falta caminhar para chegar à plenitude.

Mais do que somente aceitar que cada um tem uma maneira – correta ou não – de agir, o perdão é desapego. É desapegar da mágoa , da raiva... Diante disso, fui um pouco mais além no meu processo de autoconhecimento: vi que a Mariana, além de ainda não conseguir perdoar, não sabe desapegar da dor.
"O ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação e sem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio das almas elevadas, que pairam acima do mal que lhes quiseram fazer". (O Evangelho segundo o Espiritismo)

O curioso é que depois de uma ofensa, é difícil enxergar o ofensor como alguém que um dia te fez muito bem. A raiva e a decepção são sentimentos tão cruéis que abafam tudo que um dia foi bom e transforma uma história inteira de alegria em uma grande ferida de difícil cicatrização.

Um fato é: carregar raiva consome energia. Comecei a visualizar que a energia gerada toda vez que a gente relembra uma situação que causou dor, aumenta mais ainda a ferida e acumula sofrimento. 

Esquecer, jamais. O perdão está longe de ser sinônimo de esquecimento, afinal, é possível perdoar e nunca esquecer. Mas bem que podia ter uma fórmula mágica para transformar toda a fantástica teoria do perdão, em prática.

Uma das soluções que tenho encontrado é entender meu protagonismo na situação que me feriu. Dividir um pouco as responsabilidades dos acontecimentos, torna o perdão mais próximo de se alcançar.


Quero poder respirar leve, desejar coisas boas e apagar toda impureza do coração. Relembrar uma situação, sentindo mágoa, é o mesmo que adubar sofrimento. Até quando? Isso lá é uma forma salubre de se viver?

O tempo ajuda no processo - e doses de racionalidade e reflexão também. 
E que as relações humanas continuem nos ensinando a lutar contra os nossos próprios monstros. Afinal, não estamos nesta vida a passeio. Sigamos o verdadeiro propósito de tudo: viver, sentir, aprender e evoluir. Aqui e na eternidade.

Menino do Rio, do pandeiro e do samba


Esse aqui era o pandeiro do meu pai. Levou ele pra cima e pra baixo, no porta-malas do carro, durante muitos anos (mesmo quando já não fazia farras). Era a marca registada desse carioca da praia e do samba. Eu ficava encantada vendo ele tocar e cantar. Até me ensinou uma coisinha ou outra, mas jamais chegaria aos seus pés.

Nos últimos dias dele por aqui, pedi que tocasse de novo, mas ele dizia que já não era mais o mesmo. Pra mim, sempre será o mesmo, paizinho! Cheio de sorrisos, cheio de charme, tocando, cantando e encantando.

Obrigada pelo samba que plantou em mim e por estas lembranças lindas que guardo de você. A minha viagem aqui pela Terra ainda deve demorar bastante tempo. Ainda tenho muitos sonhos pra realizar.

Um deles era que eu pudesse te dar netinhos pra você brincar. Pelo menos você curtiu bastante um neto cachorro. Também queria que me visse vestida de noiva, mas tudo bem, pai, já nem sei mais se isso vai acontecer 😄

Quando acabar a minha longa viagem por aqui, te encontro de novo. Quero um abraço apertado e ouvir você falando “ihhh garota, tá chorando, é?? Que papo é esse???”.

Te amo, neném. Pra sempre ❣️

Sonho real



Esta noite sonhei com meu paizinho. Não tenho dúvidas de que estivemos juntos. Ele dizia no sonho que estava vivo e eu o questionava várias vezes. “Mas como, pai? E todo o velório? E o hospital? E tudo que aconteceu?”. Ele só ria com um olhar tranquilo, balançando os cabelos e confortando meu coração de que sim, ele estava vivo, não mais naquele corpo e naquele contexto, mas estava ali.

Conversamos muito - como sempre fazíamos quando ele estava por aqui- e andamos por muitos lugares...Eu acordei e dormi várias vezes durante a noite e sempre retomava o sonho que foi enoooorme, mas que só consigo lembrar do olhar e do jeitinho dele confortando meu coração.

Durante a noite, quando eu acordava, pensava “preciso lembrar disso amanhã”. Mas realmente as lembranças dessa longa noite juntos foram mínimas, mas essenciais... Talvez era só esse diálogo que era necessário eu lembrar e fixar na mente.

Acordei com o coração em paz. Estamos juntos sempre, meu amor!! Obrigada por essa oportunidade de estar com você de novo ❤️ Te amo, te amo, te amo!!

Pra sempre saudade



Velhinho, andei pensando aqui..sinto que a dor da saudade nunca vai passar. Mas a boa notícia é que acho que, aos poucos, estou aprendendo a lidar com a sua mudança.

Hoje lembrei daquele misto quente que você me trouxe quando eu tinha 6 anos, mesmo quando você não estava em boas condições físicas..aquela foi a maior prova de amor que já recebi.

Sabe, pai, depois de duas grandes perdas e de algumas menores, nos últimos tempos, tenho entendido que, de fato, a vida é uma eterna tentativa de saber dizer “oi” e saber dizer “tchau”. Encontros e desencontros.

Velhinho, hoje foi o dia em que mais sorri e me distrai desde quando você se despediu. Mas, volta e meia me vinha alguma lembrança que dava aquele incômodo no peito e a sensação ruim de nó na garganta. Devagarzinho vou aprendendo com você a conviver com a sua presença somente no meu coração. Perdoa minha fraqueza.

Vamos juntos, ligados pelo amor, seguindo nossas jornadas, agora tão distintas. Independente dos laços sanguíneos, cada um precisa viver suas próprias histórias e cumprir suas próprias missões.

Quem sou eu pra travar o seu destino❤️ Que a sua história continue sendo de muitas vitórias e muitos aprendizados por aí, paizinho.

A minha saudade é do tamanho do meu amor. Te amo infinito❤️

Te sinto na imensidão



Paizinho, te sinto na imensidão do céu, na infinitude de uma oração.. te sinto quando falo com Deus e quando acesso minha memória pra conseguir gargalhar de novo das suas palhaçadas e tocar seus cabelos que eu tanto gostava e invejava rs.

Sinta daqui, desta pequenez que é a Terra, as minhas orações de amor e de saudade. Não há separação quando o amor é verdadeiro, e eu jamais me sentirei separada de você. Não é morte, é somente uma mudança de plano. E certamente você está muito melhor por aí, na imensidão da eternidade.

Hoje você está livre, passarinho!! Livre da carne que te aprisionava e da doença que te machucava!! A minha pobre evolução não me permite deixar de derramar lágrimas de saudade.. mas vou tentando me manter forte por aqui pra te passar essa força. Hoje peguei aquele seu casacão vermelho quentinho pra guardar de lembrança.

Tudo que era seu será reaproveitado pelos seus companheiros de “só por hoje”. Com certeza é isso o que você quer. Momentos antes de partir, você falou que eu era a coisa mais linda que você já fez na vida e que você me amava mais do que tudo no mundo.. e você é tudo pra mim, pra sempre!!!!

Te amo tanto que mal cabe em mim. milhõessss de beijos, velhote! Tamo junto, “mais 24h, funciona”! 👴🏻❤️🙏🏽

Meu eterno amor



..e foi segurando a minha mão que você se despediu e foi voar pro seu verdadeiro ninho. Um passarinho que amava estrada e liberdade. Nos últimos dias por aqui, dizia que se não pudesse mais viajar e viver a vida intensamente, nada mais faria sentido. Várias vezes pensou em pegar o carro e “deitar o cabelo” (como ele dizia) rumo ao mar, numa tentativa frustrada de fugir da doença física que o corroía. Mas, infelizmente não tinha mais energia para ser o Irapoan de alguns anos atrás.

Eu te prometi que toda aquela dor e agonia iam passar, neném, e que você ia viajar muitão. E passou. E você viajou. Não do jeito que eu queria, mas do jeito que realmente importa: pela vontade de Deus.

Você veio numa breve passagem na terra para nos ensinar que é possível nos curarmos dos nossos monstros. Voltou para a pátria espiritual vitorioso por abandonar tudo que te fazia mal. Chegou no plano espiritual limpinho, “só por hoje”, como você dizia. Você é meu herói só por esta conquista.

Agora, às 18:39 desta quinta-feira, mais uma vez doeu lembrar que você não está aqui fisicamente pra eu sentir seu cheirinho doce de pai e pra andar de mãos dadas na rua com esse velhinho bonitão.
Mas, me conforta saber que está muito bem assistido e continua sendo tratado com muito amor.

A vida continua, meu velho pai.. você me ensinou. E o reencontro é certo. Te amo 🙏🏽❤️

Vá em paz, paizinho



Quando tiramos esta foto, ele falou: "quero ver se você vai ficar fazendo selfie no meu velório". Paizinho, você foi o meu primeiro amor. Me mostrou como é incrível ser tão amada por alguém. Me ensinou a andar de bicicleta, de patins, fazia o melhor sanduíche de salame de todos, com bastante manteiga. 

Falava comigo sobre amor, sexo, drogas e todos os assuntos que precisassem! Dava apelido pra todos os meus namorados e sempre dizia “larga isso, fica só com seu pai”. 

Queria ouvir você dizer meu nome só mais uma vez, ou então gritar: “ô garota”. Também queria ver vc rindo de mim quando eu falava “cola na mamãe que tu brilha” ou falando “velho é seu pai” quando eu te chamava de velhinho...

E quem foi brilhar em um lugar melhor foi você.. sem dor mais e sem nenhum sofrimento. 

Meu galã, meu paizinho, te acho o mais gato do mundo! Sou apaixonada por você! Nunca vou me esquecer do quanto me amou, mesmo do seu jeito todo “seu” de ser.

Obrigada por esse nome massa que você me deu, por me ensinar a dirigir, por ser esse eterno molecão que alegrou a minha vida!

Sua história daria um livro..uma grande comédia e um grande drama. Se eu sou tão pagodeira hoje, a culpa é toda sua, o rei do pandeiro, das rodas de samba e da alegria ❤️Te amo eternamente e tenho orgulho de ser sua única filha, seu maior amor. 

Beijo neném! Vá em paz..

sábado, 31 de março de 2018

Antes amor do que paixão





Uma série de experiências e acontecimentos me fizeram estar aqui, às 5 horas da manhã do dia 31 de março escrevendo este texto. Um deles foi o fato de eu ter “me levado” para jantar na noite anterior e desfrutado de um farto rodízio de risottos com entradas e sobremesa. Orgia gastronômica às 23h resultou em insônia na madrugada. Mas tudo bem, a insônia veio seguida de reflexões que eu já vinha fazendo há algumas semanas. Neste momento, me senti pronta e munida de informações para organizar minhas reflexões em um texto. Pra você leitor? Não. Mais uma vez, isso aqui é completamente para mim.

A parte de “me levar para jantar” vai ficar para um texto à parte. Agora vou seguir esta humilde proposta de separar amor de paixão.

Toda minha reflexão começou quando eu ouvi de um grande amigo o seguinte pensamento: “eu prefiro amar do que estar apaixonado. A gente faz cada merda quando tá apaixonado..” Aquilo bateu forte. Me identifiquei, mas não me manifestei. Naquele momento eu estava surfando demais nas ondas da paixão e não tinha a menor sensatez e disposição para refletir sobre o raciocínio dele. Mas, aquilo virou uma nota mental sem eu perceber. Uma pulga atrás da orelha.

Naquele contexto, eu achava que estava amando. Mas, na verdade, eu estava apaixonada. E sabe o que é isso? É tipo estar em uma montanha russa cheia de looping, onde você segura forte o colete na hora do medo ao mesmo tempo em que se entrega e levanta as mãos para o alto pedindo mais e mais emoção. É uma adrenalina muito louca e uma vontade cega e destemida de sentir tudo isso.

Bom, até então, eu não tinha a percepção de que amor e paixão podem não caminhar juntos. Assim, segui muito certa de que a minha experiência na insana montanha russa da paixão fazia total sentido. O arrepio, os choros, o coração acelerado, o frio na barriga..pensava: “Uau! Que mágico é o “amor”! Preciso seguir sentindo isso pelo resto da vida”. Ingênua, né? Como se para amar fosse preciso estar sempre ligado no 220v. A paixão é uma cachaça. Você se embebeda daquilo, mas quando acaba a dose, fica perdido em meio àquela sensação tola de felicidade verdadeira. Dura pouca. Apesar de ser intensa, é breve. O sentimento ideal para quem gosta de uma vida de aventuras.

A questão é: e quando acaba todo o frenesi? E quando passa a bebedeira, quando desce da montanha russa ou quando desliga a tomada? Será que por trás do frio na barriga e dos arrepios, existe amor para sustentar? Se não sustenta, volte uma casa: você provavelmente sentia paixão e não amor. No mundo rápido, prático e tecnológico de hoje, é mais difícil construir histórias de amor. Para quê se propor a viver um amor sensato, racional e duradouro se a paixão é mais rápida, intensa e exige menos esforços? Não é preciso se melhorar, se reconhecer, admitir erros e lidar com a grandeza do orgulho e a pequenez da humildade.

Aos 17 anos, depois de sofrer pela primeira paixão da minha vida, eu tive a oportunidade de iniciar uma outra relação de forma racional e não pela paixão - hoje eu vejo que era isso. Realmente, me fez muito bem durante um bom tempo. Mas, na adolescência a gente não tá nem aí pra isso. Dane-se quem te faz bem e quem te faz sentir paz. O que interessa é a adrenalina da montanha russa. Foi uma excelente experiência e válida para me trazer as reflexões de hoje.

Vi algo na internet que também me inspirou a reflexão. Vou compartilhar com você logo abaixo:






Os gregos nos perseguem desde a época da escola. Eu nunca usei o que aprendi sobre briófitas e pteridófitas, mas até hoje esses caras (filósofos e pensadores) me perseguem. Eles explicam que existem vários tipos de amor. E que sim, é possível amar alguém de forma racional e não necessariamente se sentindo numa montanha russa que suga seu bom senso e te bloqueia de compreender o mundo real.

Eu acredito no amor genuíno dentro da relação homem-mulher (ou relações homossexuais), apesar de concluir que nunca senti. Senti paixão e senti vontade de transformar a cachaça e a montanha russa em calmaria, ou seja, no amor sensato e racional. Mas ainda não tive oportunidade de amadurecer e viver isso com alguém. Hoje sinto a vontade de viver a calmaria. O amor genuíno, leve, que traz paz e conforto. A paixão nunca me trouxe isso e tenho visto que o caminho não é bem este.

O amor racional, sensato, pode ser construído, lapidado com consciência. A paixão é uma criança inconsequente. Se para me sentir bem com alguém eu precisar viver somente as imaturidades da paixão, prefiro dispensar. Para amar verdadeiramente, ou pelo menos se propor a isso, é preciso maturidade. Este é o meu ponto de vista a partir das minhas experiências até aqui. Pode ser que, para muitos, não faça o menor sentido e isso é completamente compreensível, afinal, cada um tem uma história de vida. Mas, como já foi dito, este é um texto para me ensinar. Pode ser que aos 60 anos, eu ache toda esta reflexão uma grande baboseira. Estas são as minhas reflexões de hoje, com a minha maturidade de hoje. E estou aberta a refletir e aprender com as próximas histórias que virão. E que, com essas histórias, venha a verdadeira proposta da vida a dois: paz, calmaria, respeito, companheirismo e amor.
Somente amor.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Experiências de hoje, lembranças de amanhã




De uns dias para cá tenho experimentado um desafio. Lidar com lembranças. Nunca parei para refletir sobre isso e este texto é a manifestação das últimas reflexões. Saber lidar com lembranças é saber deixá-las se tornarem lembranças. E para isso, é preciso exercitar uma outra atitude, o desapego. É uma sequência de exercícios: o desapego ajuda a fechar ciclos e o fechamento dos ciclos transforma as lembranças no que elas realmente são: somente lembranças.

Para ser sincera, nunca fui boa nisso. Mas, agora, refletindo sobre o significado e percebendo a minha maneira de funcionar diante das lembranças da minha vida, pode ser queseja mais simples aceitar que o passo que dou hoje não poderá ser o mesmo passo que darei amanhã.

A realidade é que toda vivência de agora vai, obrigatoriamente, se tornar uma lembrança amanhã. Óbvio? Sim, mas pessoas intensas que vivem cada momento com toda força que a experiência propõe, tendem a ter mais dificuldade de superar que momentos não se repetirão e que entrarão naquela caixinha de recordações que a gente guarda no fundo da gaveta da memória. O fim de uma viagem incrível que se planejou muito fazer, o fim de uma festa divertida, o fim da adolescência, o fim de um namoro, de uma amizade ou de qualquer relacionamento..

LEMBRANÇA. A própria palavra já sugere a ação: LEMBRAR. Lembrar também é aceitar, é deixar ir, é entender que o que se viveu faz parte do que você é hoje e tudo bem! Não tem que necessariamente ter uma relação com sofrimento, pois as lembranças são parte do que a gente é hoje. É a constituição do nosso ser, inteiro, particular e singular. O problema é que a gente tende a romantizar muito as experiências..

Poxa, que bom que a vida tem sido cheia de boas memórias, de boas experiências, de bons sentimentos e de boas LEMBRANÇAS para se LEMBRAR. Não é? Vou dizer uma coisa que vai chocar. Pelo menos me chocou quando eu compreendi. As lembranças não foram feitas para serem repetidas, sabia? UAU! É, para mim está sendo uma descoberta. Para você que está lendo isso pode ser que seja óbvio. Se for, que bom! Merece a minha admiração. É bonito que para alguns isso seja muito natural. Para mim, está sendo necessária uma reflexão.

As lembranças foram feitas para serem armazenadas com gratidão. Por mais que eu volte em Portugal, eu jamais terei as mesmas experiências que tive durante o ano que vivi ali, na capital Lisboa. Posso encontrar as mesmas pessoas, ir aos mesmos lugares, estudar na mesma faculdade, beijar os mesmos carinhas e comer as mesmas comidas. E não...nunca será igual a primeira vez. A segunda experiência se tornará uma nova lembrança, com novas sensações e novos sentimentos.

A irmã da lembrança é a nostalgia. Essa tudo bem, contanto que não cause dor. A nostalgia é sentir de novo o cheiro, as emoções de uma época, de um momento...ouvir uma música e reviver a adolescência toda em 3 minutos. Isso é uma delícia. LEMBRAR.

Longe de ser um texto para te ensinar algo, este é um texto para me ensinar.. Eu escrevo isso tudo para mim. Logo mais, as vivências aqui no Acre se tornarão lembranças e histórias incríveis que contarei e lembrarei com muito orgulho. Por isso, a importância de viver cada segundo com toda dedicação que ele merece.

Externalizar minhas reflexões e transformá-las em palavras me ajuda a compreender melhor o sentido da vida. E que ela seja vivida com muita intensidade sim, mas também com maturidade para saber guardar as lembranças na gaveta, com carinho. Aceitar isso é liberar a mente e o coração para o novo. E o novo está cheio de vontade de viver tudo, te oferecer mais e te mostrar que você pode ser mais do que já foi.

Então, saibamos viver o novo e saibamos perceber e desapegar quando o novo também se tornar passado. E vai virar! Parece muito lógico, mas viver não é uma conta de matemática assim tão exata. Reflexões fazem parte, experiências fazem parte, novidades fazem parte e lembranças também.

Solta o freio! Olha essa longa estrada na frente, cheia de cheiros novos, vistas bonitas, músicas diferentes, livros interessantes, lugares incomuns, pessoas singulares, sentimentos fresquinhos e prontos para serem sentidos..

Convidativo, né? 

Sejamos gratos pelo passado e corajosos para encarar o futuro com muita vontade de ser feliz. E que as lembranças continuem vivas, mas guardadinhas na gaveta, nos ensinando a não repetir erros e a buscar novos caminhos para amar, ser amado e principalmente: ser feliz.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Quarto para dois?


Quarto pra dois, né?
- Não, só para mim.

Com minha mochilinha preta nas costas, uma rasteirinha coringa e uma sacola com alguns itens de banheiro, fui entrando desconfiada e um pouco tímida, confesso. Isso porque eu estava rodeada de olhares que escancaravam questionamentos. Foi assim que cheguei no hotel que me hospedaria, sozinha, para meu tão sonhado encontro comigo mesma na virada de ano.

Ninguém entendeu isso. Acharam que eu ia usar aquele “exílio” - como alguns chamaram ironicamente - para lamentar perdas fortes que tive em 2017 e chorar uma noite inteira comendo chocolates. E teve quem esperasse o pior: pensavam que eu ia amanhecer morta numa banheira ou com uma corda amarrada no pescoço. Teve quem me olhasse desconfiado e incrédulo, num tom também irônico: - mas não vem ninguém de Brasília? A todo instante, perguntavam ao Marcelo - meu irmão aqui no Acre - se ele estava em contato comigo. Ele dizia que não. “Mas vocês não são amigos?” e ele respondia que, justamente por isso, ele precisava dar o espaço que eu tanto queria.



A minha espera por 2018 significou muito. Quando começaram os fogos no comecinho da noite do dia 31, meu coração acelerava. Eu me apoiei na simbologia do “Ano Novo, vida nova” e era como se em poucos instantes eu tivesse que dar adeus a uma maneira de funcionar que já não era mais a ideal para mim. Ou melhor, já não era mais saudável para mim. Meia noite em Brasília: rezei e me emocionei. Pedi a Deus que me ajudasse a retomar meu equilíbrio, minha alegria de viver e minha paz interior. Depois disso, fui festejar né, mores? Ainda não tem nenhum anjo por aqui. Mas, foram menos de 3h de festa. Voltei para casa no auge das atrações da noite. O que eu mais queria mesmo era ficar sozinha.



Percebi que, na nossa sociedade, é difícil as pessoas compreenderem que solidão nem sempre significa tristeza. Pode ter outros mil significados. No meu caso, era autoconhecimento, busca pela minha paz interior e um pouco do desejo de conforto e privacidade. Era também poder mexer no celular enquanto eu comia sem ninguém censurar. Era tirar quantas fotos eu quisesse e ficar todo tempo do mundo sentada na mesa do restaurante depois de jantar. Dormir e acordar como e quando eu sentisse vontade. Era não depender de ninguém e nem ter que dividir decisões com ninguém.

Foram dois dias de descobertas e aprendizados. Também ouvi músicas edificantes, iniciei minhas primeiras tentativas de meditar, ouvi e entoei mantras e comecei a ler um bom livro de Augusto Cury que fala sobre controle das emoções - incrível, por sinal. Dentro de todo este contexto, escolhi também viver uma experiência muito inusitada no último dia do ano. Esta não quero expor aqui, mas fez parte do meu processo de me permitir viver o novo. 


Eu sabia que esses dois dias seriam bons para mim, mas não imaginava que seria uma experiência tão renovadora. Logo eu que achava que tinha total controle das minhas emoções, que sabia lidar com perdas e que me sentia tão dona de mim. A gente percebe que não sabe de nada quando somos postos à prova. Eu reprovei na última delas. Mas, reprovar ensina a estudar e a buscar o aprendizado. Reprovar também serve para ensinar a não repetir as mesmas atitudes que já deram errado em outras tentativas.

Sabe quando dá medo de voltar para a realidade e se sujar de novo com todas as impurezas e dificuldades do mundo fora da janela de um quarto confortável de hotel? Aquele receio de voltar a sentir ansiedade, medo, dores, inquietações..

Minha mãe sempre diz que dificuldades todos nós temos, mas é preciso buscar as ferramentas certas para enfrentá-las sem perder o equilíbrio. Hoje me sinto engatinhando em busca da minha paz. Um passo de cada vez. Montando quebra-cabeças. Colocando na minha bolsinha de mão as ferramentas necessárias para enfrentar algo muito maior do que os problemas do dia-a-dia: enfrentar as próprias emoções. Lutar para conseguir bens materiais é até mais fácil do que à luta contra as próprias mazelas, os pensamentos negativos, ansiedades e dores emocionais.

Viemos neste mundo para aprender. A dor e as perdas fazem parte do processo de evolução. Reconhecer isto já é um grande passo na busca pela real felicidade, aquela que não está nas festas, nos copos de cerveja e nos beijinhos na boca em vão. Tudo isso faz parte do mundo e é claro que vivo isso. Sou só mais um ser humano. Mas eu falo da felicidade interior, de estar bem e satisfeito com a própria presença e com as próprias escolhas.

Hoje, sou grata ao universo por me dar a chance de experimentar o gosto amargo da dor, das perdas e das frustrações. Só assim tenho conseguido enxergar, lá no fim do túnel, a luz que me mostra um pouco do que eu posso ser, se continuar nesta caminhada. Ainda preciso de muita força pra encarar os próximos obstáculos. Confesso que não me sinto curada, nem pronta. Mas, sinto que alguém segurou minha mão como eu tanto queria quando soltaram. E esse alguém foi eu mesma.