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terça-feira, 19 de outubro de 2010

O canto das cigarras

  O canto das cigarras me fascina, me inveja, me domina.
  Como é bela a harmonia que elas elaboram sem ter medo nenhum de errar !
  Algumas cantam sozinhas, nem que seja baixinho, mas sempre sabendo que alguém vai escutar e vai se afinizar.
  Me admira também o quanto elas unidas, cantam juntas num só som, cada uma com sua particularidade.
  São formações enormes de belas cantoras, com diversos timbres e afinações.
  Umas mais experientes, outras ainda leigas, mas são únicas e essa unicidade as tornam ímpares.
  Com muita harmonia e muita compreensão elas mostram o som que por tanto tempo ensaiaram.
  Fazer sons e compor melodias não é atividade fácil, mas elas vivem deste doce trabalho e se dedicam de corpo e alma ao que amam.
  Cantam, encantam, desafinam, gritam..isso sem ter medo nenhum de julgamentos ou críticas e muito menos se alguém vai ou não gostar.
  Elas cantam por prazer, por amor, cantam para encantar!
  Ouvi dizer que além de encantadoras são sedutoras...o canto também serve como um imã de amor, os machos seduzem suas fêmeas mostrando o que fazem de melhor. Super reflexivo...
  Mesmo que alguns desafinem sempre terá uma fêmea para ouvi-lo, admirá-lo e elogiá-lo. Vai ser sua parceira de música e sua companheira de amor .
  Sem competições os dois vão se ajudar, cantarão juntos, ensinarão juntos e aprenderão juntos, por todo tempo que precisar.
  Do meu quarto eu ouço 24 horas o som das doces criaturas que insistentemente querem que paremos para escutar e que reconheçamos o quanto elas sabem atuar!
  Eu parei, escutei, refleti... atentamente ouvi as notas que elas demonstraram trabalhar. Qualquer demonstração de música me fascina e na natureza há muitos exemplos de sons, de cantos doces e até mesmo a construção de melodias complexas, como a de um passarinho que também canta por aqui por perto.

  Já tentei encontrá-lo, pra talvez elogiá-lo e dizer que eu queria ser como ele... ele faz sempre o mesmo som mas tenho a impressão de que ele trabalhou muito para que o som saísse tão afinadinho e perfeitinho rs. Ele, diferentemente das cigarras, não canta a todo instante, ele sabe que eu sou apaixonada pelo seu canto e vem de vez em quando me emocionar com seu gesto de amor  juntamente com aquele som que me traz uma sensação de inocência natural, de natureza mesmo e da complexidade dela.
  Ele é como qualquer outro de sua espécie.. é trabalhador, pai de família, mas nunca deixa de cantar e encantar, nunca deixa de fazer o que ama independente das complicações, independente da competição com as cigarras e com outros belos cantores do mundo animal.

  No frio e vazio da madrugada, as engraçadas cigarrinhas ainda insistem em nos mostrar como cantam bem e como amam isso, é admirável.
  Só existe um som que cala este canto..o som da chuva ! Elas parecem cantar, cantar, implorando para que a chuva venha refrescar e quando enfim a dignissíma toma conta da cena, aquelas se calam, ouvindo o novo som da natureza.
  Este é diferente, agradável e muito sugestivo!
  Elas emudecem e ouvem atentamente o "hit do momento", talvez para aprender novas notas, ou para construir melodias que o sugestivo som as fez pensar.
  Talvez estejam simplesmente curtindo o barulhinho do pingo caindo em suas asas, limpando e inspirando toda a música que ali também há !
   É só a dona chuva se calar que começa a cantoria novamente e parece que mais intenso e mais feliz.
  Agora refrescadas e inspiradas, elas praticam o que caladas e atentas aprenderam...novos sons, novas rimas..Sem cessar o ciclo eterno do amor pelo cantar !!
 O som da cigarra é sensível a poucas pessoas.
Enquanto é irritante para uns, é doce para outros e para mim é assim, é singular e de uma particularidade invejável.
  Com as cigarras aprendi a nunca desistir de cantar pois sempre alguém vai se interessar, sempre alguém vai me escutar.
  Com as cigarras aprendi a não ter medo de críticas e não ter medo de errar.
  Com a cigarras aprendi a ser persistente, a usar esperteza, doçura e amor para mostrar o que eu amo fazer.
  Com as cigarras aprendi a querer aprender mais e mais com novos sons e nunca me limitar a um só ritmo.
  Com as cigarras eu refleti sobre o ser humano e me perguntei: Será que somos mesmo tão mais inteligentes que estas pequenas criaturas?
  Será que vale a pena nos considerarmos os mais espertos ?
  Será que somos tão superiores assim?
  Podemos ser seres pensantes, podemos saber usar muito bem o racional e validar isso no nosso limitado dia-a-dia. Mas será que não precisamos aprender com as cigarras a sermos mais doces, humildes, persistentes, educados, simples, unidos e românticos?
  De fato a natureza tem muito a ensinar mas poucos tem a sensibilidade de aprender com estas lições singelas e sutis..
  Estas lições servem para quem tem coração leve com sede de aprender, de crescer e de sentir novas emoções.
  Esta lição ficou no meu coração..

...e confesso, queridas cigarras, sentirei falta quando vocês partirem mas espero ansiosamente pelo próximo concerto em Setembro de todo ano, afinal é o primeiro doce canto preparado com carinho, o grande responsável por trazer-nos  a chuva e a primavera e não há nada melhor do que curtir ambos com esta trilha sonora cuidadosamente elaborada por vocês. . Venham e tragam a chuva, tragam a música e tragam suas lições que eu quero mergulhar nisso tudo com vocês novamente..me deixa cantar com vocês? Me deixa cantar como vocês? Me deixa ser como vocês...?

3 comentários:

  1. Intensidade e verdade nas palavras, de uma singeleza poética tão bela, que nos faz ouvir cigarras enquanto lemos...

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  2. A filosofia mais linda de cigarras que eu já vi *--*

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  3. A sensibilidade é algo notável na sua forma de pensar... Acredito que a natureza é nossa grande mestra. E com as cigarras podemos aprender que não importa o que fazemos e com que frequência fazemos, mas o que realmente importa é que fazemos com amor e quando fazemos algo por amor sempre tocaremos algum coração (nunca todos)...
    Sua mãe que te ama

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