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terça-feira, 3 de outubro de 2017

Receptividade no Acre

Rio Branco tem duas coisas as quais não se vive sem: calor e afeto. Podia ser um pouquinho menos quente, mas é compreensível: as altas temperaturas acompanhadas de umidade 100% também fazem parte do cartão postal da cidade. Que graça teria se não pudéssemos dizer a um desconhecido na rua: "tá calor, né? E dizem que hoje foi o dia mais quente".

Em nenhum dos cantinhos do mundo que já passei, senti tanto carinho. Aqui não se mede sorriso e boa vontade. Empatia está no sangue. Ontem conheci a TV e me impressionei com detalhes. Enquanto eu esperava na recepção, todas as pessoas que entravam para bater ponto e começar o dia de trabalho davam "bom dia" para a recepcionista e para quem aguardava por ali. Comparei com Brasília, claro. Não temos esse costume. Cheguei a trabalhar em lugares em que ninguém se cumprimentava e, por eu ser estagiária, era ainda mais excluída da mínima cordialidade que existia no ambiente.

"Maninha" é a forma carinhosa como as mulheres se chamam por aqui. Não precisa ter intimidade para ser considerada maninha de alguém. Eu fui considerada maninha pela enfermeira que fez meu exame de tipagem sanguínea exigido pela empresa. "Anota meu número. Se tu precisares de algo, me liga", disse sem cerimônias. O atendimento no posto de saúde é naturalmente demorado, mas a maninha enfermeira facilitava a vida de todos que entravam na sala de coleta.

O único shopping da cidade é referência no almoço familiar do final de semana. Na lotada praça de alimentação, os nativos não dão dez passos sem encontrar alguém conhecido. Claro que não existe o hábito de olhar e fingir que não viu - comum em Brasília. É sempre um abraço caloroso, uma pergunta sobre como está o restante da família e uma brincadeirinha com o bebê da mesa.

A casa que estou morando, temporariamente, é de uma moça que eu não conhecia. É vizinha de uma família que conheço daqui. Além de abrir a casa para mim e me chamar de "maninha", no meu primeiro dia me ajudou com as malas, fez sopa de legumes e me convidou para ver filme na cama, junto com ela. Sim, eu estava na casa de uma desconhecida, no primeiro dia, deitada na cama dela, vendo TV e conversando sobre relacionamentos, passeios, filmes e comidas. Não sabia nem por onde começar a agradecer por tanta receptividade. Naturalmente, me senti em casa. No segundo dia, sentei no chão do jeito que sempre faço em casa, tomei banho no banheiro que não tem porta, andei descalça em casa e organizei a cozinha como se fosse a minha.

Não sei por quanto tempo ficarei por aqui, mas, certamente, conviver com pessoas assim faz a saudade de casa ser menos dolorida. Fui muito bem recebida pelos conhecidos e pelos desconhecidos do cantinho do Norte. Pelo visto, tenho muito o que aprender por aqui.

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