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sexta-feira, 10 de abril de 2020

Aceitar que não me aceitem e o amor como cura


Com o coração na mão



Estava cá pensando com meus botões - que inclusive estão trabalhando a todo vapor nessa quarentena, já que, quase sempre, sobra tempo livre. Me questionei: por que essa necessidade de querer ser aceita por quem não consigo agradar de nenhuma forma? Por que dói tanto não ser bem recebida em algum ambiente? Para que dar tanta importância a quem, nitidamente, não te suporta?

Voltando um pouco no tempo e buscando entender a infância para entender o presente, eu tenho lembranças de sempre ter sido uma criança adorável. Ria e falava com quem me desse corda, e até com quem não me desse. Cresci ouvindo que eu era sorridente demais, simpática demais, educada demais, linda demais e sabia me comportar em qualquer ambiente. A tudo isso, soma-se o fato de que eu era – e sempre fui- a única filha dos meus pais.

Na escola, eu me sentia sim, “o último biscoito do pacote”. Era exemplar, apesar de faladeira. Era a que todos imitavam. A preferida de muitos, a “melhor amiga” de muitas e a escolhida de tantos outros. Mesmo não sendo sempre a mais bonita, era sempre a que estava rodeada de atenção e carinho.

Não fazia ideia, naquela altura, das consequências psicológicas e emocionais que tantos estímulos positivos poderiam me trazer e fazer crer ser perfeita demais para errar ou para desagradar alguém.

O pequeno reinado da criança perfeita não durou por muito tempo. A escola é sempre uma prévia do que se vai encontrar na vida real. Dos 15 em diante, fui entendendo que eu não vivia em um conto de fadas e muito menos era a princesa protagonista. Era só mais uma “ser humaninha” com vários defeitos que desagradariam SIM. Fui descobrindo a habilidade de conseguir desagradar alguém até mesmo calada. Eu não seria aceita em qualquer ambiente e nem todos gostariam de mim, mesmo que eu tentasse muito.

Sofri alguns bullyings que me ajudaram no senso de realidade. Eu não era bonita como eu pensava que fosse, nem tão adorável assim, como eu ouvia até então. Além disso, até me render ao alisamento capilar, eu era a única da sala que tinha cabelos cacheados - motivo também para chacotas e exclusões.

Foi nesse contexto que nasceu a minha tendência ao perfeccionismo, à necessidade de ser amada e de voltar a ter os estímulos da infância. Começou a nascer a tendência de almejar que me devolvessem carinhos e sorrisos à altura do que eu entregava. Que egoísta, né? Como querer que me retribuam da maneira que EU acho adequada? Ou melhor: como querer que, minimamente, me retribuam e me aceitem? Será que sou realmente tão perfeita e especial assim que não posso ser detestada por alguém?  

Gabriel, meu namorado e amigo, com quem aprendo tanto lições como ser mais desapegada e seletiva com o que de fato é preciso dar importância, me fez uma pergunta chave depois de eu ter desabafado algumas mágoas: 

- Por que você faz tanto para agradar? 
Respondi que é porque eu queria muito que gostassem de mim..
E ele perguntou o porquê dessa vontade. 
Fiquei completamente sem respostas e com ainda mais questionamentos:
- Por que a necessidade de fazer com que gostem de mim quando já está claro que isso não será possível?

Desde essa conversa com ele, passei a questionar tantos “esforços” aos quais me submeto para receber uma simples “aceitação”, principalmente quando tenho certeza de que não sou aceita. É bem desgastante, já que é um esforço sem retornos agradáveis. Pelo contrário, parece que quanto mais se esforça, menos se alcança o objetivo.

Óbvio que não é fácil o movimento de simplesmente “deixar para lá”. Seria o “crème de la crème” se eu tivesse essa facilidade. Mas não. São passos que se dão, a partir das situações que nos são colocadas.

É uma luta constante da linda Mariana sorridente e amigável de 8 anos de idade que agradava a todos, contra a Mariana de 28 anos, coberta de defeitos e que não necessariamente vai ser amada por todos. É um movimento completamente meu. Eu me dou por inteiro, me esforço ao máximo e quando recebo o “não” indireto do outro, vem a frustração. E ela vem embaladinha na raiva e no choro, por me sentir tão incapaz do que considero o mínimo: a aceitação.

Hoje, tento encarar com mais amor aqueles pelos quais dei tudo de mim para que me aceitassem. Isso pelo bem da minha saúde mental. Tento transformar a mágoa em gratidão, afinal, pensando racionalmente, estão acrescentando muito na minha evolução como pessoa e nos meus aprendizados de vida. Me ensinam também a ser humilde. Me fazem aprender exatamente o que eu preciso aprender. Me fazem resgatar a infância para entender o presente e quebrar os padrões que devem ser quebrados.

É um clichêzão, mas eu preciso dizer que o amor é aquele sentimento chave para curar qualquer mancha no coração. Já me sinto especial por recorrer a ele para conseguir cicatrizar feridas que acabei permitindo que deixassem em mim (o nome disso é rancor).

Escrevendo assim parece simples, mas é um pequeno exercício diário, que ainda sigo tentando. E como já falei em outros textos, escrever me ajuda a desembaçar as vistas e a organizar melhor a cabeça e o coração.

Espero que o amor seja sempre aquele itenzinho da nossa caxinha de remédios, sabe? Aquele que a gente procura, em meio aquela bagunça, sabendo que vai curar.

Só olhando O OUTRO com AMOR, é que se obtém a NOSSA PRÓPRIA cura. É lindo, né? Mas podia ser tão fácil quanto é inspirador.

“O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros” (Chico Xavier)

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